terça-feira, 23 de agosto de 2011




Louise Bourgeois, o retorno do desejo proibido


São poucas as coisas que conseguem realmente captar a minha atenção. Porém, tem uma que, desde pequena, eu sou encantada: o Instituto Tomie Ohtake, que se sobressaía dentre os demais pelas suas cores vibrantes, em contraste com o dia nublado e chuvoso do último sábado, dia 20.




Com uma arquitetura baseada no futurismo, assinado pelo arquiteto Ruy Ohtake, o Instituto abriga a exposição Louise Bourgeois, o retorno do desejo proibido, em cartaz até o dia 28 de Agosto de 2011.



escultura Arch of Hysteria


Louise Bourgeois nasceu em Paris em 1911 e foi uma das escultoras mais representativas do século XX. Com base em obras surrealistas, seu trabalho se vincula à psicoanálise, no confronto entre a morte, a angústica, o medo e a vida. Com uma obra extremamente biográfica e erotizada (passei a exposição inteira falando “Freud explica”), observa-se os traumas de sua trajetória quase como uma catarse de suas memórias.




Dentre toda a exposição, duas obras me chamaram mais a atenção. A primeira foi o quadro I’m afraid, que eu achei muito original, pois nunca tinha visto um quadro bordado antes. Ele era grande, deveria ter o tamanho de uma lousa (2,0 por 1,20 metros), em cores claras -tons de bege- além de parecer acolchoado. Nele, podemos ver seu desespero, sua angustia, sua insatisfação e, apesar de toda a coletânea da exposição mostrar tudo isso, esse quadro foi o que mais me impactou. Acredito que tenha sido porque eu a imaginei bordando, tecendo todo o seu desamparo, como se fossem traumas de sua infância, ou de seus problemas mal resolvidos. Além disso, o fato de ter sido bordado em um quadro acolchoado, lembra um travesseiro , parecendo retratar a ligação , ou falta de, entre a mãe e o filho pequeno.


I’m afraid of silence

I’m afraid of the dark

I’m afraid to fail down

I’m afraid of insomnia

I’m afraid of emptiness


Is something missing?

Yes, something is missing and always will be missing

The experience of emptiness


To miss

What are you missing?

Nothing

I’m imperfect but I’m lacking nothing

Maybe something is missing but I do not know and therefore do not suffer


Empty stomach empty house empty bottle

The falling into a vacuum signals the abandonment of the mother

LB

I’m afraid - 2009 tecido com monograma LB Bordado, montado em chassi

A outra foi uma escultura gigantesca de uma aranha e, no meio dela, uma grade com um espaço dentro, como se fosse um quarto ou uma sala íntima. Havia diversos objetos pendurados, verdadeiros bibelôs. O mais impressionante de tudo isso não foi a fartura de detalhes, algo realmente impressionante, mas o fato da “gaiola” não estar totalmente fechada, como se sempre houvesse uma possibilidade de fuga, algo recorrente em suas outras obras que possuem grades com ambientes semi-fechados.



Escultura Spider

Baseado na psicoanálise de Freud, achei muito interessante o fato de ela remeter quase toda a exposição à mãe e, nessa, principalmente, mostrar como se a aranha (símbolo representativo da mãe) a aprisionasse. Fazendo uma pequena digressão, fiz uma comparação com o filme Coraline. No filme, também temos a mãe possessiva que engana a filha ao fazer comidas caseiras para ela, mas, posteriormente, revela sua verdadeira forma, a de aranha. Ao acreditar que não poderia ter sido apenas eu que fiz esse paralelo, procurei pela internet e, qual não foi a minha surpresa? Achei um site que fala sobre essa relação (http://www.threadforthought.net/tag/louise-bourgeois/). Nele, a pessoa foi além e fez um comparativo também com o fato da artista usar em suas instalações roupas tecidas manualmente, como forma de mostrar o trabalho doméstico da mulher com a intenção de cuidar e de dar carinho. Porém, ao colocá-los no meio de celas, reforça a ideia de excesso de cuidado.


Uma exposição realmente imperdível por se experimentar diversos sentimentos (em sua maioria de angústia e de opressão) todos ao mesmo tempo, em um panorama da obra de Louise, falecida em Maio de 2010. Da experiência vivida, ficou registrado a frase intrigante da artista: “A arte é uma garantia de sanidade”.


eu, depois da exposição, com um humor meio estranho

QUANDO: 8 JULHO A 28 AGOSTO 2011

ONDE: Instituto Tomie Ohtake – Av. Faria Lima, 201 (entrada pela Rua Coropés) Pinheiros (SP)

HORÁRIO: Aberto de Terça a Domingo das 11 às 20 horas

QUANTO: Entrada gratuita ao público (estacionamento pago)

LINKS RELACIONADOS: http://www.institutotomieohtake.org.br/inicio/teinicio.htm

http://www.istoe.com.br/reportagens/134946_CORPO+EM+CATARSE

http://www.colheradacultural.com.br/content/20110720094847.000.5-N-maior-mostra-de-louise-bourgeois-chega-ao-instituto-tomie-ohtake.php




Post por Ana Carolina Prado Garrossino



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